domingo, 21 de novembro de 2010

O que a morte significa/representa?! Parte II


I- Reflexões de Cezar Augusto Santos, acadêmico de psicologia

Papo de morte 


        Falar sobre a morte sempre é falar um pouco de si mesmo, de como o sujeito se relaciona com a própria finitude. Finitude? Então começa a polemica, pois o que é morte para uns é o inicio de outra vida para outros. A morte assume os mais diversos significados, ela pode ser: o inicio; o fim; a solução; ou a inevitável desgraça humana. A coisa, aquela em que nem devemos pensar. 
       Paradoxalmente penso que refletir sobre a morte é a priori refletir à vida, logo que a vida – humana e terrestre até onde se sabe – é tudo o que acontece entre o nascimento até a morte e nada pode tornar-nos mais conscientes de estar vivos e das implicações disto do que saber que um dia já não mais estaremos. Isso pode ser não só perturbador, mas libertador também.

            As mais diversas crenças e religiões ao longo da historia tem aliviado a angustia do ser humano diante da morte. Tem prometido não apenas vida após a morte, mas principalmente justiça. Desejo que muitos têm frente às injustiças como a pobreza, exploração, doença, violência e todos os males que estamos sujeitos. Acalmando assim os aflitos de todos os tipos de sofrimento, pois o dia do julgamento chegará - de diferentes maneiras nas diferentes manifestações religiosas – e a justiça será feita. O bom será recompensado e o mau será punido. Porém bom e mau é um conceito de avaliação muito subjetivo, sendo assim podemos tentar entender todas as manifestações de violência com cunho religioso. O intrigante é que muitas pessoas vivem as suas vidas inteiras esperando por esse julgamento, vivendo sob os olhos julgadores, que não lhes permitem viver com plenitude, pois muitos dogmas podam a liberdade e expressão do que há de mais humano e mais biológico na vida.
            A luz da ciência, a sede de justiça e a angustia da morte traduzem Deus e as religiões como memes. Que em analogia com os genes explica como um conceito com potencial de replicação passa de cérebro para cérebro. Conforme Dawkins (2007, p. 121) o valor da sobrevivência do meme de Deus:
                                       resulta de sua grande atração psicológica. (...) Os "braços eternos" oferecem uma proteção contra nossas próprias deficiências, a qual, como o placebo do médico, não é menos eficiente por ser imaginária. (...) Deus existe, mesmo se apenas sob a forma de um meme com alto valor de sobrevivência ou de poder infectante no ambiente fornecido pela cultura humana. 

            Para a ciência tradicional é inaceitável a existência de uma estrutura metafísica que permitisse a entrada em outras dimensões, como a alma e a vida após a morte. Sendo assim, somos um aparelho biológico finito destituído de um espírito, reducionista e assustador este viés me deixa perplexo, com um sentimento de “mas será que é só isso mesmo?”.
            No meio de tanta polêmica e mistério, angústia e esperança, têm-se o alto índice de suicídio. O que sente aquele que vê na morte a solução dos problemas ou a saída para a impossibilidade da solução deles? Somente ele mesmo sabe, deve ser uma dor intraduzível ao outro. Esse fenômeno retrata um quadro de patologia mental produto da modernidade. É o resultado da falta de contato real e significativo com a vida, que podemos re-estabelecer refletindo sobre a morte. 
        Ao negar a morte, não se pode construir um sentido coerente de vida, passando assim a ceder facilmente à pressão social do capitalismo que deforma a psique alterando os valores humanos e sufoca a vida do homem contemporâneo com a exigência de trabalhar ao máximo possível para consumir cada vez mais. Nega-se a morte até mesmo com produtos de beleza e cirurgias plásticas, evita-se o envelhecimento como se fosse algo a se envergonhar. O ser humano quer esquecer, enganar e até matar a morte com o sonho do avanço científico à imortalidade. 
        Na minha opinião somente ao se conformar com a morte, na perspectiva de fim de algo muito importante, é que se possibilita no meio disso tudo a cada um concluir sobre uma libertadora indagação: Como vale viver a vida? 

II- Reflexões de Leandro Dóro, jornalista e artista gráfico

"O objetivo da vida é evitar a morte da espécie. Temos os instintos e nossa capacidade reprodutiva como ferramentas e batalhamos há milênios para nos organizarmos socialmente de forma a permitir mais pessoas nascerem. Os cemitérios, muitas vezes, parecem um tributo a contribuição das gerações a organização da humanidade. Cultura, arte e valores estão ali expostos ou não, dependendo da capacidade econômica em vida dos restos mortais que ali jazem.
 Talvez não percebamos, mas nosso desejo de sermos eternos transmitimos a cada instante, ao nos relacionar com os demais seres viventes ou executar algum trabalho que seja efêmero ou perene. Apenas o fato de existir já é uma forma de transmitir o que somos. Afinal, somos receptáculos de história, cultura e sentimentos de toda a humanidade que nos pariu e nos permitiu crescer. Devemos filtrar e transmitir esses conhecimentos as gerações vindouras.
O desejo de eternidade, assim, é realizado a cada dia. Porém, a vontade de nossas almas serem eternas, talvez seja apenas resultado de um desejo natural de preservação e conforto.
Os mortos amamentam a trajetória dos vivos. Existir é transmitir. E os cemitérios nos dão a tranquilidade de que vivemos pouco, mas nossa espécie, não".

III- Reflexões de Douglas Bahr Leutprecht, professor de história

"A morte pra mim é a dissolução da minha consciência, e transferência do meu corpo para o restante da natureza. Não acredito em nenhuma forma de espiritualidade no sentido de 'alma', como algo que exista paralelo ao meu físico, mas acredito que somos eternos à partir do momento que toda energia que compõe meu pensamento e meu corpo, passará a integrar outros seres quando a minha consciencia deixar de existir. Ou seja, pra mim não existe "morte", apenas transferência de vida".

IV- Reflexões de Patrícia Mandalas
Fim ou início

"Você já se perguntou sobre a morte?
Será mesmo o fim ou apenas o início de uma transgressão evolutiva.
Sempre fui fascinada pela morte, um dos maiores mistérios da vida.
Esta causa-me imensa curiosidade e certa frustração, pelo medo. Mas também excita-me o desconhecido.
Sou  uma metamorfose ambulante, já mudei meu conceito infinitas vezes.
Minha formação familiar,entitulava a morte como uma passagem, onde a vida é pesada e analisada conforme suas benfeitorias, levando-te ao céu ou ao inferno.
Na adolescência tive uma fase de rebeldia, a morte seria o fim de tudo. A carne simplesmente apodreceria e seria devorada por vermes, o corpo viraria pó.
Após várias buscas espirituais,materiais e científicas, e também um pouco de maturidade, percebo que a morte é um enigma que jamais poderemos desvendar.
Mas algo dentro de mim, tende a acreditar que não é apenas o fim.
Convivo com a morte desde a infância,  quando aos quatro anos perdi meu pai.Talvez naquele momento por não compreender, aquilo tudo não significasse muito.
Com o passar dos anos revoltei-me, pois a morte levou parte da minha essência e minha segurança. 
Hoje quando penso na morte já não me causa amargor, nem rebeldia, mas ainda percebo que está cravada profundamente em minha alma e se tenho alguma esperança de vida pós morte, é porque necessito a segurança e o amor que me foram arrancados na infância".

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